segunda-feira, abril 04, 2005

_________________________________________________________________

LUSOFONIA DOS SETE SAPATOS SUJOS

Tem andado por aí na blogos um debate sobre lusofonia. Debate aceso. Com zangas e tudo. Dei conta dele no Tugir e no Machamba. Pois acabo de ler um texto que é um hino à Lusofonia. A Oração de Sapiência de Mia Couto, proferida recentemente na Universidade do Maputo. O texto é demasiado longo para o incluir aqui. Infelizmente, pois merece a maior divulgação entre nós. É que tudo, ou quase, o que Mia Couto refere sobre África e sobre Moçambique, se aplica a Portugal. Sei que o texto já foi divulgado nos jornais, mas para quem estiver interessado disponibilizo-me para o enviar por e-mail. O texto intitula-se Os sete sapatos sujos, que na opinião de Mia Couto são os sapatos que Moçambique deverá "deixar na soleira da porta para entrar na modernidade". Deixo-vos, por agora, com a conclusão de Mia Couto e com a pergunta: Que melhor hino do que este à Lusofonia, ou não deveriam ser estes, também, os nossos (de Portugal) desígnios nacionais?

"Na realidade, só existe um modo de nos valorizar: é pelo trabalho, pela obra que formos capazes de fazer. É preciso que saibamos aceitar esta condição sem complexos e sem vergonha: somos pobres. Ou melhor, fomos empobrecidos pela História. Mas nós fizemos parte dessa História, fomos também empobrecidos por nós próprios. A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós.

Mas a força de superarmos a nossa condição histórica também reside dentro de nós. Saberemos como já soubemos antes conquistar certezas que somos produtores do nosso destino. Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias. É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só os setes mas todos os sapatos que atrasam a nossa marcha colectiva.

Porque a verdade é uma: antes vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros".


Adenda: Em boa hora fui informado pelo LNT do Tugir que o texto que eu recebi por e-mail está, afinal, disponível aqui. Obrigado LNT, também em nome dos nossos leitores que queiram ler o texto na íntegra.

Sem comentários: