sábado, novembro 05, 2005

Periferias

1. O que até agora se escreveu sobre os acontecimentos na periferia de Paris situa-se, do ponto de vista analítico, nesse espaço geográfico. Periférico. Ninguém ainda se interrogou, com seriedade e objectividade de análise, sobre o significado do lugar geográfico e social onde os acontecimentos ocorrem.

2. Medeiros Ferreira levanta a questão, contrapondo o lugar periférico dos acontecimentos actuais ao lugar central dos acontecimentos do Maio de 68. Eu acrescentar-lhe-ía que a centralidade social dos "vândalos" de "bandos organizados" de jovens do Maio de 68 e da respectiva "violência", justifica o lugar geográfico central daqueles acontecimentos e a existência de um projecto, ao contrário dos acontecimentos actuais, periféricos até na ausência de projecto e de sentido da violência dos "bandos organizados" dos "vândalos" da periferia.

3. Justificações ideológicas para os acontecimentos é o que mais se lê, quer por parte dos que deram em ver no "neo-liberalismo" a causa de todas as coisas, quer nos que se colocam no pólo oposto daquela perspectiva, reflectindo, qual espelho, o seu simétrico. Para estes, o problema não possui causas nas políticas de imigração, emprego, urbanismo, ou na sua ausência, mas sim numa mera questão de "vandalismo" e "barbárie" que se soluciona com o exercício, puro e simples, da autoridade policial.

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