segunda-feira, janeiro 31, 2005

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SOBRE (IN)COERÊNCIA POLÍTICA

A propósito deste post do Abrupto:

Não tenho do universo da política, como não tenho da vida em geral, uma visão linear e a preto e branco. Admito, portanto, que opções que nos possam parecer incoerentes tenham justificação à luz de válidos argumentos lógicos. Julgo, aliás, que alguns exemplos, frequentemente apontados, de personalidades coerentes não abonam muito em favor da mais-valia da coerência. Continuo, no entanto, a achar a anunciada opção de JPP de votar no próximo dia 20 neste mesmo PSD de Santana Lopes, uma opção incoerente com as posições que JPP tem tomado, e bem, face à personagem PSL. Confesso-me pouco atento ao sentido do voto dos actuais "renovadores" do PCP, a maioria dos quais "apontou o dedo" em tempos idos aos renovadores de então. Quanto aos socialistas que terão criticado Sócrates e agora votam PS, não tenho ideia de alguma vez ter lido ou ouvido deles crítica que sequer se aproximasse das que JPP apontou, e com inteira justeza, a PSL. Não se trata, da nossa parte, de uma "critica ad hominem". Escrevemos sobre a incoerência política de JPP pela consideração intelectual que ele nos merece e pela importância pública do sentido do seu voto e peso político das suas opiniões. Mas compreendemos a sua angústia com o caminho que vê o seu partido tomar, arriscando-se a obter um dos piores resultados da sua história graças à liderança que lhe coube. Disso deverá o partido assacar responsabilidades, fundamentalmente, a Durão Barroso.

Mas a opção de JPP torna-se ainda mais injustificável depois de escrever que "seria mau para Portugal que Santana Lopes voltasse a ser Primeiro-ministro". Como pode, então, JPP votar em alguém para Primeiro-ministro depois de considerar que seria mau que voltasse a sê-lo? Diz-se JPP, como militante do PSD, preocupado com o resultado eleitoral do seu partido, por considerar ser mau para o país um mau resultado do PSD. Julgo, ao contrário, que o previsível resultado eleitoral do PSD será a melhor forma que aquele partido terá, de se ver livre, de uma vez por todas, de alguém que faz assentar num suposto apoio popular o seu peso político dentro e fora do partido. Ora, um descalabro eleitoral do PSD será o melhor argumento que os militantes decentes, dentro do PSD, terão para definitivamente afastarem da liderança alguém como PSL e reconstruírem uma liderança credível para o partido. Algo que é essencial não apenas ao partido como à democracia portuguesa. Eis porque me pareceria mais consentâneo com as posições que tem tomado sobre PSL, por exemplo, uma declaração de voto em branco de JPP.

Adenda: Este outro post de JPP, que só agora li, em que faz eco dos "desabafos" que tem recebido dos seus leitores de igual filiação ou simpatia partidária, apenas reforça o que penso.

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