quarta-feira, outubro 19, 2005

Quanto vale um ranking internacional?

Sempre tive uma postura de desconfiança avisada em relação à maioria dos indicadores comparativos do que quer que seja, produzidos por alguns organismos internacionais. Das taxas de alcoolismo, ao desenvolvimento dos paises, passando pela poluição do ar e chegando à competitividade das economias. Foi precisamente sobre a medida comparativa desta última que recentemente veio a público mais um relatório do género, com o respectivo ranking elaborado pelo Fórum Económico Mundial. Este, para nosso gaúdio, posicionava Portugal entre as vinte e duas economias mais competitivas do mundo. Portugal sobe mesmo dois lugares no referido ranking, face ao último ano, passando de 24º para 22º, num total de 117 países comparados. Espanto maior, ainda, advém do facto de termos já deixado para trás países como a Bélgica, a Itália, a Espanha, a Irlanda e a França (!). Mas atenção, entre as vantagens competitivas de Portugal, apontadas no relatório, situa-se a tecnologia e inovação, medida por vários indicadores, entre os quais o número de telemóveis. Os economistas dir-me-ão se estou enganado, mas julgo que as vantagens competitivas relativas à tecnologia e inovação se medem pela presença das mesmas na produção de um país e não no seu consumo. Os telemóveis que os portugueses consomem aos pares são produzidos algures, ou até em Portugal, mas graças à inovação resultante do investimento em I&D realizado na Finlândia, no Japão, nos EUA. Ora, a nossa grande desvantagem competitiva parece residir, precisamente, na debilidade tecnológica e de inovação do nosso sector produtivo e no desequilíbrio entre a elevadíssima importação de bens de consumo e a baixa capacidade para produzir e exportar bens que apresentem vantagens comparativas no mercado global. Essas vantagens, pelo que se tem avançado, passam sobretudo pela incorporação de inovação tecnológica e de design dos bens transaccionáveis produzidos. Ou temos andado todos equivocados nos discursos e análises sobre a economia nacional, ou este "Global Competitiveness Report 2005-2006" é uma piada.

1 comentário:

Luís Aguiar-Conraria disse...

Estas comparações internacionais são sempre muito difíceis de fazer. Muitas vezes penso que nem vale a pena fazê-las, mas às vezes são importantes para despertar consciências. Teríamos nós consciência das nossas debilidades educativas se não recorrêssemos a comparações internacionais?

Em relação ao estudo que citas, é óbvio que é um disparate dizer que Portugal é mais competitivo (e já agora o que quer dizer isto?) do que a França ou a Irlanda. Essa do número de telemóveis é uma forma engenhosa e prática de medir a capacidade de as populações adoptarem novas tecnologias. Mas depois temos de analisar as realidades locais, para não se fazer comparações disparatadas. Ou eu me engano muito ou em Portugal há tantos telemóveis apenas porque a Portugal Telecom tinha um péssimo serviço (caríssimo!!!) de telefones fixos. Não terá muito a ver com a nossa capacidade de lidar com novas tecnologias.